O Triângulo TO-MI-GE

Tracei o meu próprio triângulo TO-MI-GE começando em Milão, cidade que já tinha visitado há 3 anos atrás, e que, não sei por que razão, me voltou a surpreender novamente - a monumentalidade do Duomo, a excentricidade da Galeria Vittorio Emanuele e a imprevisibilidade de um Castelo Sforzesco transformado em museu.
Castelo Sforzesco (Milão) - Dezembro/2019
Castelo Sforzesco (Milão) - Setembro/2016
É curioso quando visitamos o mesmo lugar em dois períodos diferentes da nossa vida (são cerca de 1.200 dias que separam estas duas fotografias) e pensamos que tudo está irrecuperável e inevitavelmente diferente. E depois constatamos de forma objetiva e clara que está tudo exatamente no mesmo sítio e que são os nossos olhos que, alterados, distorcem a forma como relembramos os lugares. Porque tudo permanece num estado inerte e estacionário e somos nós, bichos desapropriadamente inquietos, que sofremos um processo de modificação que nos faz olhar para tudo o que está igual de uma forma surpreendentemente diversa. Somos nós que estamos diferentes, daí que a nossa percepção também é diferente. Uma diferença, literalmente, como do dia para a noite.

Igreja de Santa Maria delle Grazie - Milão

A Última Ceia, representada no refeitório da igreja - Milão

Para além dos lugares mencionados que já havia visitado, aproveitei para conhecer a Igreja de Santa Maria delle Grazie. Tive também a sorte de conseguir um bilhete para entrar no antigo refeitório da igreja, para contemplar o fresco original d'A Última Ceia, milhentas vezes reproduzido à escala mundial. Os bilhetes estavam esgotados já para toda a semana, mas depois uma professora russa, aflita porque tinha comprado o bilhete e não conseguia ir ver na hora para a qual o tinha comprado, fez-me o favor de me o vender e assim pude ver com os meus próprios olhos mais de 500 anos de história, uma das maiores obras-primas de Leonardo Da Vinci. Daquelas imagens que namoramos tantas e tantas vezes na escola, nos manuais de história da arte (obras para as quais somos obrigados a fazer relatórios sobre as suas técnicas de pintura, em que somos questionados sobre o contexto em que foram concebidas, sobre a vida e outras obras do seu autor), e que depois, absorvidos com tanta informação, não temos palavras para descrever o que é estar perante elas. Muita gente não sabe o que é essa sensação, a mesma gente que não daria € 16 pelo bilhete, mas que ofereceria trinta ou quarenta vezes mais por uma mala Louis Vuitton. É a diferença!

Galeria Vittorio Emanuele - Milão

Piazza Duomo - Milão
Não existem alturas perfeitas para viajar ou descobrir novos lugares, mas não há nada como sentir as vibrações das luzes das cidades na época natalícia. Parece tudo tão mágico que as pessoas parecem ignorar o frio e aventuram-se, sem medo, nas ruas enregeladas. Há músicas de Natal à espreita em todos os cantos e toda a gente se torna inexplicavelmente bondosa. Um clima que deveria durar os 365 dias do ano mas que, infelizmente, é sol de pouca dura.

Piazza di San Carlo - Turim

Piazza de San Carlo - Turim

Do vértice de Milão, segui para o ângulo de Turim, capital de Piemonte e considerada a quarta maior cidade de Itália, atrás de Roma, de Milão e de Nápoles. É a casa da Juventus, a Torino dos italianos e mãe da maior marca italiana de automóveis - a FIAT (Fábrica Italiana de Automóveis de Turim). Lembrei-me há pouco tempo do dia em que me ensinaram pela primeira vez o que queria dizer a marca FIAT. Foi o meu primeiro dia na faculdade de um curso (Línguas, Literaturas e Culturas na FCSH) que mais tarde vim a desistir. O mais engraçado de tudo é que era uma aula de italiano e hoje era espetacular se tivesse vindo para Itália pelo menos com um B1 de nível de língua. Enfim, parece que estava mesmo destinada a aprender italiano, de uma forma ou de outra.

Museu Egípcio - Turim


Museu Egípcio - Turim

Visitar o Museu Egípcio num antigo palácio barroco foi das primeiras coisas que fiz quando cheguei a Turim. O bilhete é de €15 mas dá acesso a uma das maiores coleções egiptólogas do mundo, com cerca de 6.500 obras expostas. No valor do bilhete está também incluído o audio-guia que faz com que a visita seja mais informativa e acompanhada, uma vez que nos vai dando explicações, em italiano ou em inglês, (não havia em português, infelizmente!) ao mesmo tempo que vamos vendo a coleção. O Museu foi fundado em 1824 por Carlos Félix de Saboia, rei da Sardenha, e nele podemos contemplar papiros com milhares de anos, estátuas, cerâmica, túmulos e sarcófagos.

Galleria San Frederico - Turim

Galleria San Frederico - Turim

Tal como em Milão e Nápoles, também Turim tem uma galeria, um edifício comercial do centro histórico, de estilo arquitetónico grandioso, construída nos anos 30 do século XX. Inicialmente começou por ser a maior área comercial coberta, mas hoje apenas alberga joalharias, sedes de negócio e estudos profissionais. Logo na esquina desta Galeria encontra-se uma das mais importantes praças da cidade - a Piazza San Carlo - com um monumento dedicado a Emanuele Filiberto de Saboia.

Piazza Castello - Turim

Piazza Castello - Turim
A cerca de 7 minutos a pé da Piazza San Carlo está a mais importante e imponente praça de Turim - a Piazza Palazzo, coração do centro histórico da cidade. Uma praça quadrangular que alberga palácios, museus, teatros e cafés. Sentimo-nos pequenos quando, pelas vias Garibaldi, Po, Roma ou Micca, entramos dentro do seu recinto, pois os edifícios que a circundam são monumentais e grandiosos. No centro da praça há um quiosque reconfortante que nos faz relembrar um qualquer largo de Lisboa, mas uma das maiores atrações da cidade é mesmo a Mole Antonelliana. Uma estrutura em alvenaria que culmina num pináculo bem alto (são cerca de 167 metros de altura), projetada pelo arquiteto Alessandro Antonelli e construída entre 1863 e 1889. Começou por abrigar uma sinagoga mas hoje alberga o Museu do Cinema. Tem também elevador panorâmico e oferece uma vista espetacular sobre os Alpes.

Mole Antonelliana - Turim

Completei o triângulo em Génova, cidade que disputa desde há uns séculos com Marselha pela distinção de melhor porto marítimo do Mar Mediterrâneo. Para terem uma ideia, é a sexta mais populosa cidade de Itália e ainda assim tem cerca de mais cem mil habitantes do que Lisboa, a mais populosa cidade de Portugal. Génova é a capital da região da Ligúria, foi Capital Europeia da Cultura em 2004 e morada de nascimento de Christophorus Colombus (Cristóvão Colombo), navegador e explorador italiano, responsável pela descoberta do continente americano ao serviço dos reis católicos de Espanha.

Galeone Neptune no Porto de Génova

Aquário de Génova

O Aquário de Génova é uma das principais atrações da cidade. Um bilhete de entrada para um adulto é de cerca de € 32, enquanto que uma criança até aos 12 anos paga cerca de € 21. Os preços, é verdade, não são muito convidativos. Ao invés de entrar, preferi perder-me literalmente pela cidade. Perder-me é mesmo o termo certo, até porque no centro histórico de Génova nem com o GPS conseguimos encontrar-nos. As ruas são estreitas (mais ainda do que as do Quartieri Spagnoli, em Nápoles) e os prédios são tão altos que nem a luz do sol consegue penetrar.

Rua de Génova

Largo em Génova

Ao aventurarmo-nos pelos labirintos que são as ruas de Génova, é uma sorte se não desembocarmos sempre no Mar da Ligúria. A água espreita por quase toda a cidade. Génova não é mais do que uma pequena faixa do litoral noroeste de Itália. Mas se não alcançarmos o mar, é possível que cheguemos, sem GPS, à principal praça da cidade - a Piazza delle Fontane Marose. Apesar de ser a maior de Génova, não é senão um largo. A perspetiva do espaço alarga-se um pouco, mas a sua dimensão é reduzida quando comparada com as principais praças de outras cidades.

Piazza de Ferrari

Piazza de Ferrari e a Estátua de Garibaldi

Piazza de Ferrari

À medida que se percorrem as vielas, somos tentados a provar a focaccia, espécie de pão salgado com azeite, muito apreciado pelos "mercadores" de Génova entre as refeições.
  

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